Aquela coisa da chuva batendo na janela numa manhã fresca de verão em meio a edredons e travesseiros de pluma, acordando de mansinho, só funciona em filmes, novelas e contos de fadas. Por aqui mais precisamente em São Paulo, essa metrópole agitadíssima, o despertador das pessoas berra, quase se morre de susto e quando se vai a janela para ver como está o dia, um grito avassalador sai da garganta:
- Ahhhh nããooo, ta chovendo de novo !
("Ahh não", pra não soltar uma palavra de baixo calão logo cedo)
Mas nem dá tempo de se aborrecer tanto. Corre para resolver 798 coisas pela manhã com a certeza de que não dará tempo.
Com o pé fora do conforto de casa se descobre que a chuva é ainda mais sacana. É aquela coisa nem fina, nem forte, que vem com um vento de quebrar guarda-chuvas e molhar até a alma. Mas não tem jeito, tem que encarar. Andar até o ponto do ônibus já é uma aventura: é rezar para nenhum carro passar por aquela poça e te dar banho de água barrenta. Nessas horas se descobre que temos um lado malabarista, equilibrista, sabe lá. Segura a bolsa, a pasta, o guarda-chuva, o dinheiro da passagem, (no meu caso o Bilhete Único) tudo isso no meio da ventania e o celular ainda resolve tocar. Aí é sacanagem. E não dá pra deixar de atender. Se pensa que dá para ver depois quem ligou e retornar a ligação, já era. Sem créditos!
E cadê aquela @#$&% de ônibus que não vem nunca?
Dentro do ônibus é outra aventura: é passar na roleta com mil coisas na mão, tomar cuidado para não molhar ninguém com o guarda-chuva ensopado e conseguir respirar com todas as janelas do veículo fechado.
Quando acha que estará em segurança embaixo de alguma marquise, se engana redondamente. O povo insiste em andar vagarosamente com o guarda-chuva aberto mesmo sob a proteção dos toldos coloridos das lojas.
Quantas vezes já mencionei “guarda-chuva” aqui nesse texto? Odeio guarda-chuvas. Esses objetos de formas inconvenientes foram feitos para irritar profundamente qualquer cidadão de bem. E para travar aquelas portas giratórias dos bancos, fato que já vi muitas vezes. Os mais espertos o esquecem em algum banco de táxi ou loja de conveniência, mas têm outros que insistem em usá-los para esbarrar nas cabeças das pessoas e quase lhes furar os olhos.
Conclusão, no primeiro compromisso do dia já se chega completamente molhada, despenteada, irritada e com vontade de matar alguém. E o dia só está começando. Já se imaginou às 5 da tarde? É quase suicídio. Ou homicídio. Sabe lá quem se vai encontrar pelo caminho, não é? Definitivamente dias de chuva não foram feitos para sair de casa. Não foram feitos para trabalhar, ir para escola/faculdade, passear, viajar. Dias de chuva são feitos para ficar na cama, em meio a edredons, travesseiros de plumas, olhando-a bater na janela ...
Ahhh, esqueci! Isso é só para filmes, novelas e contos de fada ! rs