Percebemos claramente o quanto as redes sociais popularizaram os escritores nos últimos tempos. Nunca a literatura foi tão querida e amada. Clarice Lispector, por exemplo, no passado arrancava arrepios nos estudantes que eram obrigados a estudar sua obra na escola, hoje são as suas famosas frases que causam alvoroço e são motivos de muitos comentários e reproduções no mundo virtual.
Faz mais de 30 anos que a autora morreu, mas mesmo assim, sua obra é estudada como Literatura Contemporânea e assim também é considerada, sendo os seus livros classificados como romance moderno.
Talvez seja pelo seu olhar intuitivo em relação ao universo feminino que Clarice Lispector hoje é popular entre as mulheres; elas sempre ocuparam um lugar de destaque nas páginas da autora.
Hoje existem muitos equívocos sobre as autorias dela, talvez por ainda não ser de domínio público. Os livros de Clarice não podem ser digitalizados sem autorização, tampouco disponibilizados de forma gratuita e nem as editoras conseguem comercializá-los a preços mais acessíveis; isso poderá ocorrer somente depois dos 50 anos de falecimento da autora.
Já que sabemos o quão escassas são as nossas bibliotecas públicas, infelizmente – e baseiam-se em fontes não muito confiáveis para creditar e divulgar textos sendo dessa autora.
Vejamos um exemplo: há sites que creditam à Clarice a seguinte frase: “Você pode até me empurrar de um penhasco e eu vou dizer: e daí, eu adoro voar!”. Esse estilo da frase não se enquadra com o de Lispector; nossa querida autora é dona de uma literatura mais intimista, simbólica e introspectiva, o que nada tem a ver com a expressão acima citada. Há fontes na internet que declaram que essa frase foi dita pela atriz Bruna Lombardi, outros dizem ser de Kathlen Heloise Pfiffer. Então, como saber ao certo? A resposta é simples: não há como saber, pois não encontramos referências bibliográficas que comprovem a autenticidade da frase sendo de autora X ou Y.
A internet é um espaço livre, e pelo menos em nossa realidade, os direitos autorais nunca foram devidamente respeitados na web.
Por mais que se confie em uma página virtual, nada se compara com a veracidade de um livro, devidamente publicado, catalogado e registrado.
Essa expressão é só uma de tantas que a todo tempo são divulgadas na rede mundial de computadores, através de ferramentas como e-mail, twitter, Orkut e facebook. A internet, que poderia ser uma verdadeira aliada na disseminação da literatura, hoje se tornou uma grande vilã, espalhando inverdades e deboches referentes à obra de escritores geniais.
Mas bem sabemos que a internet é atualizada pelas pessoas, a maioria delas são pessoas de bem, que não veem maldade alguma em repassar aquele e-mail com um texto bonito assinado por Clarice Lispector, ou então em retwittar aquela frase legal também creditada à autora; por isso, caso você seja fã das frases e textos que circulam na web como sendo de Lispector, a dica é a seguinte: duvide sempre de tudo o que ler; e pesquise, questione, conheça as obras e procure referências, antes de divulgar e disseminar falsos textos pela internet; quem agradece não sou eu, - uma apaixonada admiradora da obra dessa mulher -, mas sim o legado de Clarice, que de maneira alguma merece ser vulgarizado e desrespeitado, mais ainda do que já está sendo.